25 maio 2006

Pátria Despedaçada - A Invasão Norte-Americana no Brasil


Ao fundo, uma visão perturbadora: a bandeira dos Estados Unidos
hasteada na Praça dos Três Poderes, tremulando tranqüilamente, contrastando com a paisagem e a soberania nacional destruídas.

O livro Pátria Despedaçada - A Invasão Norte-Americana no Brasil (Editora Komedi, 381 pag) é uma crítica corrosiva quanto ao modelo de dominação exercido no mundo pelos Estados Unidos. É um romance ficcional com elementos extraídos da realidade. Tem como cenários as cidades de São Paulo, Brasília, Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro.

Breve sinopse:
Com inimigos potenciais no mundo contemporâneo (União Européia e China), os Estados Unidos buscam a consolidação econômica através da ALCA – Área de Livre Comércio das Américas –, desenvolvendo um plano bélico audacioso. Caso, o governo brasileiro rejeitasse a criação do bloco, o plano seria retomado (iniciado com Osama Bin Laden nos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington) – e a rejeição ocorre na ficção. Em seguida, sob as ordens diretas do Pentágono, um agente secreto é contratado para realização de diversos atentados no Brasil. O primeiro alvo é uma das estações do metrô de São Paulo. Desta forma, a opinião pública brasileira solicita auxilio dos Estados Unidos e paulatinamente, os norte-americanos tomam o poder no planalto central.

Quem descobre toda essa trama é um fotógrafo do Jornal Cidade de São Paulo, chamado Fernando e auxiliado por sua namorada Penélope. Ele viaja para Foz do Iguaçu, na região da Tríplice Fronteira, sendo posteriormente, envolvido em algo conspiratório.

A cronologia do enredo é o ano de 2.002. FHC é o presidente. Época tb de eleição presidencial, liderança do candidato trabalhista na campanha política. Qual será o destino desses personagens tão reais? Renúncia?

Para reforçar que a ficção, às vezes, copia a realidade, visitem a home page do UOL. Há duas matérias interessantes que demonstram que a trama não está tão longe de ser verdade:
1. Instalação de bases militares norte-americanas no Paraguai http://noticias.uol.com.br/ultnot/2005/07/04/ult23u154.jhtm
2. China: futuro inimigo militar dos Estados Unidos
http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/05/23/ult34u154988.jhtm

O livro está à venda nos seguintes sites:
www.submarino.com.br
www.livrariacultura.com.br
www.saraiva.com.br

Trechos

Capitulo 1

Na manhã do sufocante verão paulistano, Fernando acordou um pouco atordoado. Ficara até altas horas cobrindo uma matéria para o jornal e, era um assunto nada agradável: greve dos motoristas e cobradores de ônibus, tão comum nesta época do ano, quando patrões e empregados se engalfinham em discussões intermináveis.

– Que droga! Estou atrasado! O senhor Flávio vai me matar...

Num piscar de olhos, levantou-se da cama. Ainda teve um surto momentâneo de arremessar o despertador na parede, comprado no vendedor ambulante. "Se esse maldito relógio funcionasse direito, teria me poupado também de mais um pesadelo" – pensou. Enquanto tomava banho, teve calafrios ao se recordar do mau sonho da manhã. Tinha medo que a antiga fase retornasse. Mas, era tudo tão nítido e real, que talvez procurasse ajuda. Dizem que os sonhos são os reflexos da alma. Ele gostava de praia com coqueiros, céu infinito e gaivotas salpicadas ao vento. Não aquilo que sonhara morbidamente. Sentado num rochedo, Fernando enxergou a areia da praia ao longe. O mar estava bravio e o sol poente trincava o céu. Barulhos estranhos rasgaram o silêncio da natureza: portas se fechando, a voz do pai, roldanas de elevador, solo de violino, choro de criança, arrastar de pés descalços, vidros se partindo. Uma sinfonia psicodélica. Ele fixou o olhar na ponta da praia. Viu perplexo o enforcamento de uma dezena de bebês. Ao lado do cadafalso, uma mulher grávida tinha o ventre rasgado por lâminas enfurecidas. Uma mão invisível retirava a criança e apertava o seu frágil pescoço. De repente, era ele que tomava o lugar do recém-nascido e tinha o próprio pescoço esganado. Risadas eram ouvidas. Quase ao mesmo tempo, todos os bebês abriam os olhos. Estavam transtornados diabolicamente. Das pequenas bocas surgiam dentes pontiagudos e línguas partidas ao meio; sangue escorria dos glóbulos oculares. Enquanto sufocava, outro sol nascia, depois nuvens pesadas se formavam e caia uma pesada chuva. Os pingos eram de sangue viscoso. A água do mar tingia-se de vermelho, depois preto. Cavalos galopavam em volta do seu corpo. Soltavam fogo pela boca. Raios riscavam o céu. Trovões gemiam profundamente. Ele não tinha mais forças para lutar. A dor era tão forte que estava quase desmaiando. Foi aí que acordou atrasado. Nem teve tempo de olhar em baixo da cama. Pensando bem, tinha mais medo do diretor do jornal do que um exército inteiro de bebês endiabrados.

Trocou-se rapidamente, engoliu o café da manhã. Eram oito horas e cinco minutos quando pôs os pés na rua.

Naquele momento, em outro ponto qualquer da cidade, o agente lia calmamente o jornal, folheava a parte dos classificados, seção de empregos. Fixou o olhar sobre um anúncio: "Início imediato, ótimo salário, função operacional, proximidades da estação Centenário do Metrô. Enviar currículo para Agência Central, caixa postal 181, código Alpha". Um sorriso caiu-lhe serenamente na face. Chegara o momento de retomar o plano B da conquista norte-americana no Brasil.

*****

O agente caminhou tranqüilamente no pátio onde estavam estacionados os trens do Metrô, no bairro da Barra Funda. Passou despercebido na portaria, fingiram tê-lo visto. Era domingo de madrugada. A lua minguante seria a sua testemunha, ainda que discreta. Daqui três horas o funcionamento retomaria, era preciso ser rápido. Vestindo os trajes típicos de quem trabalha no setor de manutenção, levava uma escala de horários e uma caixa de ferramentas.
Ao longe, alguns funcionários faziam averiguações nas cabines dos trens, nos equipamentos, nos freios, iluminação e outros pontos necessários ao bom funcionamento do sistema.
Olhou a escala, aproximou-se da composição que partiria da primeira estação do ramal. A estação Barra Funda, às sete e meia da manhã daquela segunda-feira, seria o ponto inicial da primeira missão. Entrou pela cabine, acendeu as luzes, andou pelo vagão. Consultou a ordem de serviço, como se fosse um trabalho rotineiro. Sorriu ao ver um dos mapas do transporte metropolitano e os inúmeros quadros com propaganda. Poluição visual é um subproduto do capitalismo – coitado do cidadão que é perseguido, até dentro do metrô.

No meio do vagão, do lado direito, sob um dos assentos de cor cinza destinados a portadores de deficiências e idosos, começou a instalar o artefato explosivo. "Assento especialmente reservado para bombas" – ironizou. Ficou quieto, ouviu somente o barulho dos outros companheiros de profissão. Não haviam câmeras para registrarem sua habilidade e perícia. Colocou luvas brancas. Embaixo do assento, com uma pequena chave abriu o compartimento, retirou o extintor. Manuseando um objeto pontiagudo, parecido com uma caneta, abriu cirurgicamente a lataria. Fixou o gatilho onde a porta automática encostaria quando abrisse em cada estação. Ao gatilho grudou um fio, ligando ao sistema eletrônico do artefato, que pesava aproximadamente cinco quilos. Segundo seus planos, a bomba seria ligada na estação Barra Funda, no horário estipulado, e acionada para explodir quando o gatilho fosse apertado pela sétima vez por umas das portas automáticas; quarenta e cinco segundos depois, já com as portas trancadas, entregaria a encomenda às funerárias.

Serviço concluído. Devolveu o extintor, fechou com esmero o compartimento. "Manutenção é algo muito sério" – pensou. E foi-se embora, carregando sua caixa de ferramentas e aguardando os acontecimentos que estavam por vir.

*****
Outros trechos
O embaixador norte-americano continuou:

– Não me venha com discurso batido de sociólogo. Quem ditam as regras agora somos nós. Te dou dois caminhos: um é regado por vinhos e por belas paisagens do Rio Sena; o outro é uma sepultura fria, com vermes devorando seu corpo.
– E o que terei que fazer? – perguntou FHC.
– Apenas renuncie. Do Brasil, tomaremos conta. Estamos entendidos?
– Sim... – o presidente abaixou a cabeça.


*****


Era noite quando retornaram à capital. Fernando deixou Penélope em Santa Cecília. Sentia um vazio, daqueles que abrem o peito e exilam o coração na sarjeta. Os carros rasgavam as ruas sem se importar com os pedestres e, num simples piscar de olhos, os semáforos paravam-nos. Fluía uma certa frieza. Ele voltou ao metrô, alardeado pela indiferença. A máquina automática de bilhetes era mais viva e sincera na devolução do troco, com as saltitantes moedas de dez centavos, que o atendente da bilheteria. O som da catraca era mais convidativo que os olhares dos outros usuários. Um vazio estranho, como se aquele dia fosse o último, como se o sol não fosse nascer na manhã seguinte e a lua, dali para frente, fosse apenas Nova. Estranha sensação que invadia também as fronteiras brasileiras. A nação mais poderosa do mundo iria despejar, nos dias seguintes, mais medo e dor. Tudo bem camuflado, planejado pelos senhores do Império.

*****

Agora autorizam os norte-americanos a jogar bombas aqui, como se fôssemos um Vietnã, um Afeganistão, sei lá, um país que não tivesse soberania, que não soubesse cuidar do próprio umbigo. Sabe, nunca vi com bons olhos a influência selvagem exercida pelos Estados Unidos. É o tipo de gente que acha que tudo gira em torno deles. Acham, só acham, que Deus criou a América para cuidar dos interesses do mundo. Parecem que são os representantes do Criador em nosso planeta. Não é irônico o que vou dizer? Pois é, sim. Israel, aliado dos americanos, pinta e borda no Oriente Médio, massacra os palestinos, invade os territórios árabes e nada acontece... O que você acha? – Penélope despejou duramente.

*****

No Brasil, os acontecimentos se sucediam como em uma peça teatral. Estávamos no último ato e o clímax rondava a platéia. O golpe final dos Estados Unidos seria dado antes que a cortina se fechasse e o palco ficasse vazio; o mais interessante de tudo isso seria os brasileiros aplaudiriam de pé, com gratidão e respeito. Enfim, certos espetáculos imperialistas ficam em cartaz por décadas, maravilhando os espectadores, promovendo o modo de vida, os costumes e as crenças ditos superiores, alterando a vida dos locais, para o bem ou para o mal, reinventando a história. Assim é o jeito suave dos norte-americanos: primeiro "agregam valor" ao povo submisso, trocam-lhe a alma, deixando-a o mais "americanizada" possível; depois, anos e anos sugam tudo que há de bom, principalmente matéria-prima abundante. Um belo dia, esse mesmo povo que os acolheu de braços abertos, maior que o do Cristo Redentor em relação à Baía da Guanabara, percebe que não tem mais pátria, que o céu azul não é mais azul, que o verde das matas adquiriu em tons cinzas, que as almas de todos queimam no inferno da ganância. A nossa pátria amada e idolatrada está por um fio. Ela está quase despedaçada.

*****

Quinta-feira, aproximadamente 10 horas da manhã. Havia tensão no ar. Por telefone, o presidente da República fora informado que caças norte-americanos haviam decolado da Base de Alcântara, no Maranhão. Missão: bombardear alvos suspeitos no Paraguai, em represália ao ataque sofrido pelo consulado. De mãos atadas, concordara com o uso do espaço aéreo brasileiro. Porém, omitiu-se que o alvo principal seria Foz do Iguaçu. Os quase 3.500 quilômetros de distância foram rasgados com facilidade.

Num outono pouco ameno, o sol queimava o asfalto. A Ponte da Amizade, que interliga os dois países, estava fervilhando de sacoleiros. O posto de fiscalização da Receita Federal instalado na fronteira fazia vista grossa com os "turistas", que sempre davam um jeitinho de trazer mercadorias ilegais. Pequenos pontos foram vistos no horizonte. Eram cinco caças da Força Aérea dos Estados Unidos, em formação de ataque. O grupo foi dividido. Três partiram para o oeste de Foz do Iguaçu e dois deles continuaram vindo em direção à ponte, como exímias águias letais. Mísseis foram disparados, sutilmente. Não houve tempo de reação, de fuga. Havia muita gente e o trânsito caótico paralisou a cena. O olhar cegou, o cérebro partiu-se e a Pátria despedaçou-se nas águas. Enquanto a ponte era atacada, o galpão da indústria química Corrientes sofria pesado bombardeio. A cidade entrou em pânico. Esta era a primeira missão do dia. Agora, os caças norte-americanos entraram em formação de V, ultrapassando a linha imaginária da fronteira paraguaia. Nas cercanias de Ciudad del Leste, um novo ataque desferido sobre um prédio de cinco andares e um galpão de tamanho médio adjacente. Meia hora depois, os caças retornaram à Alcântara, deixando um rastro de sangue e destruição. Não somente mísseis foram disparados. Naquela manhã, caíram o medo e a desconfiança.